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Separar Meninos e Meninas nas Escolas: Inovação ou Retrocesso?

Alessandra Mantini*


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Algumas escolas particulares, especialmente as de orientação católica, têm adotado a separação de meninos e meninas em turmas diferentes como parte de suas propostas pedagógicas. A justificativa apresentada é criar um ambiente mais focado e alinhado a valores tradicionais. Mas será que essa estratégia realmente contribui para o desenvolvimento dos jovens?


A interação entre meninos e meninas é essencial para o crescimento social, emocional e até profissional. Deus nos criou para sermos parceiros e companheiros, com papéis complementares, e separar os gêneros durante uma fase tão crucial como a infância e a puberdade pode privá-los de aprender habilidades fundamentais para viver em sociedade.


Como mãe de dois adolescentes – uma menina de 15 anos e um menino de 13 –, vejo diariamente o quanto a convivência entre os sexos é enriquecedora. Apesar das diferenças de personalidade, muitas influenciadas pelo gênero, meus filhos aprendem a lidar com elas de forma saudável, desafiando-se e provocando-se mutuamente. Esse convívio, que ocorre tanto em casa quanto na escola, é uma preparação para a vida adulta, onde precisam competir e colaborar com pessoas de ambos os sexos, como no mercado de trabalho.


Embora reconheça que escolas particulares têm autonomia para propor modelos diferenciados e que algumas famílias podem enxergar valor em salas separadas, acredito que limitar o convívio misto tira dos jovens a oportunidade de desenvolver habilidades sociais indispensáveis. A infância e a adolescência são momentos formativos nos quais aprendemos a lidar com as diferenças, a respeitar o outro e a construir relações de cooperação – qualidades fundamentais em uma sociedade mista.


Também apoio o homeschooling como uma alternativa legítima, especialmente para famílias que desejam um controle maior sobre a formação de seus filhos. No entanto, essa modalidade não seria viável para a minha família devido à nossa rotina. Além disso, acredito que o ambiente escolar, com sua diversidade e convivência entre os sexos, tem muito a oferecer para o desenvolvimento das crianças e adolescentes.


Estudos e organizações renomadas apontam para os benefícios de uma educação mista em detrimento da separação por sexo. Uma pesquisa da American Psychological Association (APA) revelou que não há vantagens acadêmicas claras em separar meninos e meninas, e que essa prática pode reforçar estereótipos de gênero, prejudicando a interação social necessária para a vida adulta. A UNESCO também defende a convivência mista como promotora da igualdade de gênero e de habilidades sociais essenciais. Além disso, relatórios da National Coalition for Public Education (NCPE) e da OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development) destacam que ambientes escolares diversos são fundamentais para o desenvolvimento de competências como empatia, resolução de conflitos e cooperação, habilidades indispensáveis para o mercado de trabalho e para a vida em sociedade.


Estereótipos como "meninos são mais bagunceiros" e "meninas são mais dedicadas" não respeitam a individualidade de cada estudante. Há muitas exceções a essas ideias generalizadas, e forçar essa divisão não contribui para o crescimento dos jovens. Por que dividir, se podemos somar? A convivência entre meninos e meninas ensina respeito, empatia e trabalho em equipe, habilidades indispensáveis para viver e prosperar em uma sociedade mista.


*Alessandra Mantini é mãe e Presidente da Associação Escolas Abertas Juiz de Fora, entidade sem fins lucrativos que defende a melhoria da qualidade do ensino.

 
 
 

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