Os efeitos nocivos do uso de máscaras por crianças em fase de alfabetização.
- Escolas Abertas JF
- 6 de abr. de 2022
- 3 min de leitura

Enquanto o Brasil e o mundo passam por um processo de libertação em relação ao uso obrigatório de máscaras faciais em locais fechados, nossas crianças ainda permanecem sendo o grupo mais prejudicado.
Não bastasse o notório prejuízo causado pelo longo fechamento das escolas, algumas autoridades públicas insistem em manter o uso obrigatório das máscaras nas salas de aula, sem considerar riscos que vão além do aspecto epidemiológico.
Tudo isso é feito ao mesmo tempo em que eventos e festas acontecem sem restrições ou fiscalização. Centenas ou até milhares de adultos, ou até mesmo crianças, podem se reunir para beber, dançar e cantar fora do ambiente escolar, mas precisam manter o uso obrigatório do artefato quando chegam na escola.
Existem estudos demonstrando que a cobertura do rosto pela máscara dificulta reconhecer as emoções e pode causar prejuízos para o desenvolvimento socioemocional. As máscaras no ambiente escolar interferem na socialização e desenvolvimento, além de prejudicar o processo de alfabetização, uma sequela importante deixada pela pandemia na educação infantil brasileira.
Mesmo nos tempos atuais, em que se fala tanto em equidade, inclusão e empatia, parece que se esqueceram, por exemplo, do grande prejuízo que sofrem os estudante com deficiência auditiva, especialmente aqueles que praticam a leitura labial ou se comunicam por língua de sinais. Mas eles não são os únicos afetados.
Ainda no primeiro ano da pandemia, a pesquisadora Elvira Eliza França já alertava para os efeitos nocivos do uso de máscaras para crianças em fase de alfabetização. O motivo é que a ausência da leitura das expressões faciais, que se desenvolve após o nascimento da criança, vem a se tornar fundamental mais adiante, à medida em que os estímulos das letras e palavras começam a entrar pelos sistemas perceptivos da visão e da audição. Isso porque esses estímulos são destinados para a área do cérebro que interpreta as expressões da face.
Elvira é mestre em Educação pela UNICAMP, pós-graduanda em Neurociência e Comportamento pela PUC (RS), especialista em Programação Neurolinguística pelo NLP Comprehensive dos EUA e graduada em Comunicação Social pela Universidade de Mogi das Cruzes (SP).
Baseando em dado obtido em estudos com ressonância magnética do neurocientista brasileiro Augusto Buchweitz, a pesquisadora afirma que o aprendizado da leitura e da escrita depende da transferência das atividades da área que faz a identificação de rostos – e que fica do lado esquerdo do cérebro – para o lado direito, para que alguém se torne letrado. Desse modo, quem é alfabetizado e leitor passa, necessariamente, por um processo de adaptação na área que até então interpretava faces e que passa a ser utilizada para visualização das letras e das palavras.
Embora reconheça que o cérebro humano tenha a capacidade de se adaptar para interpretar as faces mascaradas, a interrupção desse processo adaptativo pode afetar a capacidade da criança ler e escrever com eficiência.
É evidente, portanto, que o prolongamento do uso obrigatório de máscaras pode agravar ainda mais o quadro da educação de crianças que passaram boa parte da primeira infância frequentando escolas com seus rostinhos tapados, assim como de suas professoras.
Não podemos mais tolerar decisões que não avaliem as condições específicas das crianças, para além do aspecto epidemiológico. Os efeitos de tantas restrições de longo prazo ainda estão longe de ser conhecidos, ao contrário do que já se descobriu sobre a transmissão do coronavírus em crianças.
Ainda que a cobertura vacinal na faixa etária dos 5 a 11 anos de idade não tenha alcançado os mesmos índices de adultos e adolescentes, são as crianças que mais necessitam estar sem máscaras. Se elas mesmas podem frequentar outros ambientes sem a proteção, qual será o efeito da exposição ao ambiente escolar? Será que os prefeitos brasileiros, antes de tomarem suas decisões, mensuraram e ponderaram esse risco juntamente com o de ter uma geração inteira de indivíduos com nível baixo de escrita e leitura? Obviamente, não!
Respeitem nossos pequenos para que eles possam um dia consertar o erro que cometeram.
Acesse o artigo da pesquisadora clicando em: https://amazoniareal.com.br/o-desafio-da-leitura-facial-mascarada-na-pandemia-e-o-que-isso-tem-a-ver-com-a-leitura-das-palavras/
Foto: Wix/Unplash/Jan Kopřiva



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